quinta-feira, 9 de junho de 2011

Cidadania planetária



Defendemos o uso colectivo do planeta, seja nas suas infra estruturas seja na utilização dos bens que todos os dias juntamos aos que já existem. E pensamos ainda que é o uso exclusivo e o direito de propriedade individual que estão na origem da maioria dos problemas sociais e humanos que afligem a Humanidade.

Sonhamos, por isso, com uma época em que o homem assuma a liberdade como o maior dos seus bens – assuma-a e partilhe-a.

E visionando o tempo que nos aguarda, vemos que a Terra se transformou num imenso jardim, onde pequenas comunidades se organizaram, não por razões comerciais ou industriais, mas em função das tendências íntimas e da expressão humana que a elas se liga.

A liberdade religiosa é total. Cada ser procura e expressa livremente a sua sensibilidade, seja qual for a forma como entenda e se relacione com o todo universal. Em consequência, os credos religiosos perderam terreno face à relação livremente criada entre cada ser e o cosmos humano e sideral.

Adivinha-se o aparecimento, agora ainda em esboço, de uma forma mística de inter-relação entre o homem e tudo o mais que o rodeia. A acontecer, prevê-se que este passo corresponda a uma mutação de consciência global que antecipe a adesão ao todo universal.

As filosofias esotéricas extinguiram-se enquanto partículas de um saber mais profundo. Este, por sua vez, faz agora parte da busca de todo o ser humano e está disponível em associação com o saber comum. Criou-se, deste modo, a tão esperada síntese entre ciências espirituais e materiais.

As diversas tradições espirituais fundiram-se e fazem agora parte da cultura humana. Em virtude disso, terminaram as lutas fratricidas entre seres humanos e atingiu-se a concepção de uma busca da verdade e não da ideia da sua posse como um bem acabado.

A concepção divina generalizou-se e expandiu-se, formando a base cultural da nova humanidade. O homem entendeu e assumiu realizar-se realizando o outro homem e isto conduziu ao aparecimento de uma consciência unificada. Esta consciência antecipa a possibilidade do aparecimento de uma consciência cósmica.

A indústria existe, mas em bolsas separadas dos aglomerados humanos, e em todo o caso é industria que já não polui. Para a manter apenas uns poucos, e de longe em longe, já que o objectivo da indústria é suprir as necessidades de consumo e não concorrerem umas contra as outras, como hoje é uso.

A humanidade organizada ou, em aglomerados pequenos ou, muitos em peregrinação constante, já que a troca de informação e experiência é a base de toda a evolução humana. Circular entre comunidades, realizar em cada uma delas uma parte do que somos, torna-se assim uma mais valia quer para o viajante quer para aqueles que o acolhem.

Comunicação através dos meios globais que hoje já esboçados estão, sendo o futuro apenas a disponibilização do sistema para todos utilizarem e não como agora, só para os que tem os meios financeiros. E daí um enriquecimento global, já previsível hoje, mas impossível de alcançar pelas restrições orçamentais dos países pobres.

E com a globalização da comunicação entre todos, também a expansão vertiginosa do conhecimento e seu uso. Assim se passando rapidamente da mentalidade fechada e limitada aos usos de cada povo, à ideia, muito mais correcta e verdadeira, dos interesses globais de todos.

Planeamento, na base, das quantidades máximas possíveis de gente que pode habitar, quer o planeta, quer cada região. Já que o excesso de população e sobretudo a sua má distribuição, foi e é uma das causas de guerra, fome, doença e infelicidade.

Saneamento das doenças, quer pela utilização da genética, quer pela educação das populações, já que saúde sem educação não é possível. Também controle alimentar, usando os produtos que a natureza disponibiliza e não aqueles que a industrialização forçada criou. Tudo isso no sentido de inserir o homem no seu meio natural e por consequência fazê-lo participar do conjunto.

Famílias, não forçadas pela necessidade de sobreviver a qualquer custo, ou pela ideia de acumular riquezas e privilégios, mas em virtude do interesse e gosto daqueles que assumem a necessidade de partilhar o que são. E por isso estáveis. Mas também, e simultaneamente, relações esporádicas entre pessoas que, devido à sua natureza e interesses, fazem das viagens um modo de vida.

Crianças são sempre bem vindas, já que com elas se reaprende o sonho e a ideia de melhorar tudo. Mas porque assumidas pelo conjunto e por ele educadas, crescem em liberdade e com o sentido global da vida, e isto torna-as cidadãs do mundo e portanto conscientes e positivas.

Os bens, porque excedentários num mundo que só consome o essencial, estão disponíveis para todos. E tal como hoje as bibliotecas disponibilizam cultura, no futuro os armazéns disponibilizarão objectos, alimentos, medicamentos, e tudo o mais que seja essencial ao homem.

A habitação é um direito de todos e não um uso exclusivo de alguns. Pelo que as habitações existentes no planeta são usadas de acordo com a necessidade e não de acordo com a posse. Assim, mesmo para aqueles que circulam de comunidade em comunidade, existe sempre a possibilidade de pernoitar onde encontrarem casa ou abrigo.

Também nas comunidades o podem fazer, seja nas habitações disponíveis, seja através da construção de outro espaço a eles destinado. Nestas ocasiões junta-se a comunidade inteira para ajudar a construir a nova habitação.

Porque tudo é bem comum, cessou a ideia de lutar pelo uso particular ou de ferir outros para o conservar. Ao contrario, gerou-se a ideia de que não havendo posse alguma há liberdade para viver o momento que passa. E isto traduziu-se em criatividade, em comunicação, em cultura. E em bem estar.

As guerras, geradas para defender territórios exclusivos ou direitos tornados obsoletos, deixaram de existir ou de ser pensadas como solução.

As forças de segurança, criadas para castigar e manter o poder político, extinguiram-se pela ausência de conflitos ou de interesses particulares.

As prisões já não aprisionam, pois que os seres crescem sem dor e portanto sem necessidade de ferir outros ou deles se vingarem.

Tudo que o homem criou para se defender do seu semelhante jaz agora no museu das coisas inúteis. E se alguns ainda estudam essas questões é para poderem ensinar às crianças o horror do homem que não amava o outro homem.

O comércio extinguiu-se, já que a produção chega directamente a quem a usa. E tendo-se extinguido, o custo dos bens, antes exorbitante e inflacionado pela ideia do lucro pessoal, tornou-se acessível para quem os utiliza. Saiu-se assim de uma bancarrota com data fixa e entrou-se definitivamente na ideia de uma sociedade responsável e partilhada.

O poder político extinguiu-se dado não haver necessidade de mandar nos homens nem de os convencer a serem distintos dos outros homens.

A administração existe ainda, mas sem defender ideologias particulares ou interesses exclusivos. Existe de forma ordeira e global. A sua constituição obedece a princípios considerados sagrados: liberdade, fraternidade, igualdade.

Os cargos administrativos são atribuídos rotativamente e todas as comunidades podem estar representadas. Os cidadãos também podem participar se o entenderem. O objectivo é a troca permanente de informação e o gerir das situações de acordo com as necessidades de todos.

JC

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