quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Respeito (comentário)

Muitos são os caminhos para a verdade - como ousarias impôr o teu próprio como único? Todos os caminhos vão dar a Deus, apenas que uns são mais duros e curtos e outros mais suaves e longos - como ousarias estabelecer a opção dos teus Irmãos, quando por vezes te é tão difícil encontrar a tua própria opção?

Como avaliarias o nível de cansaço de cada um? Como saberias quais os limites da força e da coragem? Deixa isso ao Mestre, tu que pensas que tudo sabes! Limita-te a tudo ouvir, a tudo compreender, a tudo respeitar.

Dás voltas e voltas à montanha, muitas vezes descendo para depois poderes voltar a subir! - quando poderias erguer-te a pique sobre as tuas asas!

Como ousarias, pois, olhar com desprezo os que ainda se encontram no sopé e nem iniciaram o caminho? Quem sabe se, uma vez decidida a subida, não chegarão ao cimo ainda antes de ti?

Lembra: a tua missão é a da pastora que segue com o seu rebanho apenas pelos caminhos que ele tem capacidade para subir, e atrás!

Uma flor, tão mais pequena que uma estrela, será por isso menos bela? Imaginas um Universo sem flores e apenas feito de estrelas? Não imponhas o teu próprio ponto de vista crendo ser este uma estrela! E mesmo se fosse? Deveria o Senhor sacrificar a singeleza das flores ao brilho das estrelas? Respeita tudo e ajudarás a construir o Universo, ó co-criadora!

Ensinar é ajudar a colocar no exterior aquilo que o Discípulo tem no interior - e não de forma alguma enchê-lo com aquilo que não pode conter.

Não vieste tu para ensinar? Então terás primeiro de perscrutar os corações, em vez de apenas ouvires o teu próprio.

O único valor que vale a pena proteger é a Liberdade, ou seja, Deus, pois só Ele é Livre! Defende a Liberdade de cada um e só assim serás a Pastora de Deus. Não aprisiones em nome da protecção.

Maria (mater)

Respeito

Uma Sacerdotisa não agride quando fala ou actua, mesmo que por um bom motivo. A sua palavra é doce, o seu semblante é sereno.

Uma Sacerdotisa não domina nem impõe a sua vontade, mesmo que para proteger.

Uma Sacerdotisa não abafa aqueles a quem ama, com o seu próprio ponto de vista, pois sabe que o milagre do Universo reside na diversidade de todas as coisas vivas - e no seu direito à diferença.

Uma Sacerdotisa recusa a tristeza e a depressão, pois sabe que essas são as armas com que os do Abismo tentam vencer os Filhos da Luz.

Maria (mater)

Prontidão (comentário)

Só o ser realizado está pronto. Só há realização quando se olha para além de si próprio a fim de realizar o mundo. Para realizar o mundo é preciso estar-se atento.

O cachorro que dorme com uma orelha levantada, atento ao mais pequeno sinal, é a mais perfeita imagem da prontidão: suficientemente sereno para que possa dormir, suficientemente atento para que possa agir - vive no eterno presente.

Esquecida de ti, monta guarda aos pés do Mestre, como perfeita guardiã, ó Sacerdotisa! Vê a Constelação do Cão, montando guarda à Via Láctea!

O método para estar pronto é a Serenidade atenta. O método para a Serenidade é olhar por cima do muro - para além dos estreitos horizontes. O método para a atenção é a perfeita valorização de todas as coisas criadas - da flor à estrela, tudo é único!

Sê o centro do Universo, mas para que, imóvel, forneças a energia que permita às coisas e às criaturas girarem a partir de ti - e não para ti. Pôr o mundo a girar para si, fornecendo-lhe uma força centrípeta, como fazem os néscios, é servir a si mesmo até certo ponto e ser aniquilado pelo impacto do mundo, a partir de outro ponto.

Pôr o mundo a girar a partir de si, fornecendo-lhe uma força centrífuga, como fazem os deuses, é servir ilimitadamente e é expandir-se com o mundo que se expande: para cima e para o alto. Eis a generosidade da Sacerdotisa da Senhora!

Perseverar e estar atenta, olhando além de ti própria, é não conhecer o cansaço - ao contrário do que se julga. O cansaço é fruto de um olhar circular sobre ti mesma - a energia não se renova, vicia-se. Olha os outros e gerarás a troca energética que tudo renova. Repara no Sol, que não se cansa!

Maria (mater)

Prontidão

Uma Sacerdotisa é generosa, sempre presente e actuante. Uma Sacerdotisa está sempre pronta, seja qual for a hora ou o lugar. Uma Sacerdotisa é perseverante, mesmo quando todos já se cansaram de perseverar.

Uma Sacerdotisa não conhece o descanso. Nunca se nega. Nunca se recusa. Uma Sacerdotisa possui o espírito do sacrifício (sacro ofício) e sacraliza tudo quanto faz.

Para a Sacerdotisa só existe um comando, o do Mestre. Uma regra: a da fidelidade.
Um objectivo: a realização da Obra.

Maria (mater)

Acção (comentário)

Ser ou não ser! Ser é estar no momento presente - nem no passado nem no futuro. Quem está, em consciência e assumindo, é. Quem é não pode não ser - tal como quem está em consciência, não pode não estar.

Quem quer a morte iniciática não pode querer a vida profana, e tampouco pode dar o passo de recuo quando ela se aproxima, pois no processo do Discipulado, quem pediu e foi aceite pelo Mestre, não mais pode voltar atrás. E se renegar, será renegado - pois quem pede para não ser, não será, e isso implica destruição. Se pediste, aceita. Coerência, ó Sacerdotisa, Coerência!

Ser integralmente é aceitar e assumir a própria força interior que deslumbra e toca o coração como um raio. É ouvir a verdade da alma que não se compadece com compromissos ou padrões!

Ser é agir, mesmo na imobilidade, pois quem é entra no centro da roda das coisas que toca e torna-se seu motor imóvel e seu destino. Entrar na imobilidade sem acção é entrar no coração da morte da alma e tornar-se sombra - e tu, ó Sacerdotisa, não vieste para morrer mas para viver, e nessa vida seres Luz e nunca escuridão e pranto.

Purifica o teu corpo, vai! Purifica o teu corpo! E cessa de te lamentar e ranger os dentes. Tu vieste para te sintonizar com a alegria, a harmonia e a saúde ; e a saúde estará em ti se o teu pensamento for saudável. Que tristeza: uma Sacerdotisa doente!

Uma vez purificado Corpo, Pensamento e Alma, terás optado e então, sim! Serás! E quando tu fores, sem equívocos nem enganos, quem te vir verá o Mestre! Quem estiver contigo com Ele estará! Então, curarás e ensinarás! Mas primeiro, sê como aquelas criaturas que vivem e morrem na harmonia ; primeiro cura-te a ti própria!

Escuta, minha bem amada! Recusa definitivamente a lustral luz brilhante de Satan!
A Luz a que vieste é incolor e translúcida. Não brilha, anima! Arde sem se ver, como disse o Poeta.

Maria (mater)

Acção

Uma Sacerdotisa sabe optar, não se imobiliza.

Uma Sacerdotisa não força os outros, pela sua própria imobilidade, a realizarem a sua vontade.

Uma Sacerdotisa sabe que uma das formas de maior violência é a prática ostensiva da não-violência.

Uma Sacerdotisa não faz a concessão de, por vezes, transportar num ombro a água de Deus e no outro a de Mamon.

Maria (mater)

Valentia (comentário)

Ser valente do ponto de vista alquímico (e químico) é possuir significado comparativo. O significado surge para o ser quando se assume como Estrela e encontra a sua própria dimensão de grandeza.

Ser Valente é ter Valor, é existir. Só existem realmente aqueles que são capazes de afrontar as barreiras íntimas bem como as externas. O medo é a Sombra a cantar ao vosso coração, para enganar.

Tu és a Estrela matutina e também a Estrela nocturna, ó Sacerdotisa! Em ti se junta a Lua e o Sol. Tu és o número 8 dos Grandes Arcanos, o número 8 que se deita sobre o horizonte para infinitizar o Ser.

Só em ti o Universo se eterniza. Porém, na tua humildade, deverás ser a infinitésima parte considerada, a infinitesimal Valência do ovo sem a qual não haveria a manifestação infinita.

O medo é uma máscara que a alma põe sobre a sua realidade apavorante: só pode existir sozinha e sem a perversão da Luz que é a Matéria e a Morte.

Os Valentes afrontam a morte para nela se dissolverem e não se importam.

O medo é a máscara que cai para mostrar a falta de Amor que é a desconfiança. Tem confiança! É o apelo que o Mestre te lança. Só na inocência cresce a Valentia. Sê pois inocente e tudo vencerás.

Foste feita para as árduas batalhas, para os apavorantes desafios, para o confronto com todos os Arcanos, não te negues!

Ainda que o véu da personalidade caia aos teus pés sacerdotais e fiques nua e fria num brilho magnético de túmulo, não te negues nunca! Vieste para Valer, não para brincar com as Forças Divinas, como os seres profanos.

Maria (mater)

Valentia

Uma Sacerdotisa é valente. É na verdade uma guerreira. Quanto maior é o obstáculo, mais se motiva para o vencer. A sua arma, porém, é o sorriso e a palavra certa no tempo certo, a compreensão e a firmeza que não cede.

Uma Sacerdotisa não se desmotiva. Qual coluna do Templo, qual pilar de mármore, resiste a todas as convulsões, a todos os abalos, e contra ela vão os penitentes encostar as suas dores e as suas faltas...

Uma Sacerdotisa ama. Acima de tudo ama tudo - pois que tudo aceita e compreende.

Uma Sacerdotisa possui o dom da esperança nos seus olhos - e à esperança sacrifica bem-estar e comodidade.

Maria (mater)

Serenidade (comentário)

Serenidade é comunhão. Quem comunga da grandiosidade da criação, quer nos seus aspectos Yin, quer Yang, entra na unidade e torna-se Sereno - atingiu o estado de Confiança.

Sabe ó Sacerdotisa: em ti mesma és intocável e indestrutível! Porque te preocupas, pois, com essas vestes corruptíveis que um dia irás abandonar?

Acaso é o Sol mais belo que a Lua? Como o saberias se não existissem ambos para que os pudesses comparar?Acaso é o Verão mais belo que o Inverno? Que dirias da Primavera e do Outono que participam da natureza de ambos?

Sê pois o Ocaso do mundo e que o teu Irmão seja o seu Amanhecer - só assim existirá a expansão do fogo do Meio-dia e a pedra cristalina da Meia-noite. E por vós, ó consagrados Sacerdotes, entrarão no Universo os Deuses de Fogo e os Homens de Cristal.

Entrega-te ao Raio Luminoso da Meia-noite com a mesma plenitude com que te entregas à totalidade luminosa do Meio-dia. E de deslumbramento em deslumbramento beberás da plenitude da vida e conhecerás o maior dos êxtases e a mais devastadora das paixões.

Procurais nos vossos amantes a eternidade? Eu porém digo-vos: só existe continuidade nesse lugar que se situa entre a prata e o ouro, entre a sombra e a luz, esse lugar atemporal onde todas as coisas possuem o mesmo valor e a mesma força.

Não recebas com uma mão e não dês com a outra: dá antes com as duas, e que tudo o que venha até ti seja canalizado para o mundo. Nada retenhas, nada prendas, para que não fiques retida e presa.

Tu és a Bela-a-Pastora - muito mais do que uma guardiã de rebanhos, és tu! És a Beleza que protege, e o teu cajado chama-se Serenidade. Sem ele serás menos que uma Sacerdotisa e mesmo menos que uma mulher, pois que ousaste pecar contra o mistério, acercando-te dele com a alma carregada da iniquidade da terra, coisa que uma mulher do mundo não ousaria. Tem cuidado! Perder-se é mais fácil que encontrar-se.

Se não tiveres Serenidade não serás minha Discípula, mas uma fraude. Não terás Serenidade no coração enquanto te restar crueldade e maledicência. Enquanto acusares, mesmo os que merecem a acusação. Não terás Serenidade enquanto desejares ainda algo para ti própria.

Vê que longe estás! Eu porém vejo-te e não me poderás enganar, nem mesmo vestindo as penas mansas da pomba!

Maria (mater)

Serenidade

Uma Sacerdotisa não pode dar em si guarida à angústia da revolta, à frustração da carência.

Não estabelece padrões para aquilo que quer receber, pois só há uma coisa que anseia: a plena Luz, o Ilimitado Som, a Inefável Cor.

Uma Sacerdotisa não estabelece padrões para aquilo que quer dar, mas atentamente encaminha o comportamento das ovelhas, de acordo com a verdade de cada uma delas, para que nem uma só, do rebanho da Deusa, seja rejeitada.

Maria (mater)

Coragem (comentário)

Ser capaz de descer ao mais fundo e negro abismo, com a certeza de apenas existir a Luz - eis a Coragem Sacerdotal.

Não temer o demónio e enfrentá-lo - eis o salto mais alto, a afronta mais justa. A grande, a última coragem está em arriscar a segurança da personalidade sem discutir o preço - calcular só Deus calcula.

A segurança só em Deus existe - não nos jogos com que nos cremos senhores do destino. Não controles o teu Destino, Ó Sacerdotisa! Deixa-te antes controlar por ele - ou falharás.

Dominar a vida? Sois porventura maiores que ela, ou mais poderosos? - A vida é uma força inelutável, é o próprio Deus em movimento, e só vos exige uma atitude: estar disponível, como a amante para o amante, ou o útero da terra para os seus filhos. A Vida apenas procura eternizar-se, nada mais. Entrega-te à Vida, e eterniza-te com ela!

A Deusa do futuro não conhece o medo e anseia pelo que desconhece - sabe que só o presente existe!

Curar e ensinar - deveriam ser os teus primeiros objectivos, ora, como ensinarás se não fores sábia? E como curarás se não estiveres sã? Aprende e cura-te - só então estarás pronta para o Verdadeiro Sacerdócio. Só então poderás exercer a Verdadeira Coragem.

Não desbarates este tempo breve em prolongadas vanidades. Aplica-te e trabalha: sobre ti, primeiro. Sobre os outros depois! Ou no fim apenas te restará nas mãos um fátuo golpe de vento e o terrível desgosto do último momento onde a vaidade já não cabe. Assim o Mestre te avisa!

Maria (mater)

Coragem

Uma Sacerdotisa é firme como um rochedo. Inamovível como uma montanha, optimista como as espécies da terra que se deitam à noite com a certeza de um novo dia.

Uma Sacerdotisa afronta o medo e salta no escuro abismo, sabendo que no seu fundo, só a Luz pode existir - pois as trevas mais não são do que aparências que se dissipam quando olhadas dentro dos olhos...

Uma Sacerdotisa arrisca tudo - segurança, ambições, certezas... por obediência ao Mestre que do fundo do Ser a chama com voz troante.

Uma Sacerdotisa não olha para trás, pois que para ela só o presente existe - e o ideal de um futuro de alegria e luz que constrói com as próprias mãos.
Uma Sacerdotisa cura. Uma Sacerdotisa ensina.

Maria (mater)

Confiança (comentário)

Confiança é a solicitação básica que o Mestre faz ao Discípulo. Sem confiança não existe discipulado. Ainda que a noite se fizesse dia e o dia se fizesse noite, o dever do Discípulo seria, ainda e sempre, Confiar.

É que o Discípulo foi avisado, no início do percurso, que chegaria o dia em que, dependurado na árvore (Arcano XII), ele teria de enfrentar o que está em cima estando em baixo e o que está em baixo estando em cima.

Confia em Mim! Confia em Mim! É o grito que vem da Alma do Mestre até à Alma do Discípulo!

Ainda que o sofrimento te pareça insuportável, lembra: um dia terás de suportar o ardor dos cravos - e só então entregarás a Alma!

Se queres conservar-te, foge, pois com o Mestre apenas alcançarás, como recompensa, a estrutura do vaso vazio, onde cabe a Luz Universal - nada mais.

Confiar no Mestre é saber que a tua vida te não pertence, e que nem um só dos teus passos será dado, sem que por detrás dele esteja a Mão do Mestre.

As provações são o Fogo com que o Mestre testa os Discípulos que quer e afasta os que não quer. Que ninguém, sem ser Ele, se atreva a podar os ramos da árvore à sombra da qual o Mestre se senta!

De tudo o Mestre se serve: dos nossos amigos e dos nossos inimigos, para encaminhar os nossos passos para onde nos quer.

Que não haja revolta nem rancor contra ninguém - mas Amor equitativo a todas as criaturas.

Que ninguém proteja aquilo que o Mestre expõe, mas que tão-pouco exponha aquilo que o Mestre protege!, pois que nenhum Discípulo se encontra para além da Sabedoria com que o Mestre dispõe Exposição e Protecção.

Amar é Confiar e praticar a Lei da Não Interferência. Olhar os lírios do campo e as aves do céu, é a única inocência permitida à Sacerdotisa. Tudo o resto deve ser Vigilância e Silêncio.

Maria (mater)

Confiança

Uma Sacerdotisa olha os lírios do campo e as aves do céu e não se preocupa com o amanhã. Sabe que para lá dos seus pequenos espaços existe um espaço único de comunhão com todas as coisas vivas, onde não existe carência, pois que reina a confiança.

Uma Sacerdotisa não protege os que lhe são queridos, pois toda a protecção pertence por natureza e direito a cada ser vivo, por vontade do seu Criador.

Uma Sacerdotisa não se substitui às dores alheias, pois sabe que a necessidade do Universo clama: a cada ser a sua dor e o seu crescimento.

Maria (mater)

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Despersonalização (comentário 2)

Persona - a máscara, é o véu com que nos cobrimos quando viemos à manifestação: o trabalho de Ísis, a Sacerdotisa, é o de retirar todos os véus para que apenas o rosto brilhe. Não temas o teu próprio rosto, ó Sacerdotisa, pois ele é a Chama brilhante que vem de Deus.

Desmascarar - eis a tua missão. Desmascarar a treva e os que a cultuam: desmascarar as manhas de Satã que te quer fazer acreditar que não existe. Desmascarar as sombras com que Eva vestiu a humanidade. Desmascarar a tua própria torpeza - pois que te engana Satã quando te faz crer que já atingiste a perfeição. Sabe: ainda muito, muito longa é a tua caminhada. Penetrar os véus da senhora para encontrar a sua própria Verdade - eis a Prova!

Despersonalizas-te quando cessas de pensar em ti e te dás, sem incluíres a mente nesse acto! Pois a mente, lembra, é que destrói a Verdade.

Se queres seguir a Nosso Senhor Jesus Cristo, é forçoso que abandones tudo e, mais que tudo, te abandones a ti própria, para unicamente seguir a Sua Inebriante Luz.

Com a força da ausência de si própria é que a Sacerdotisa regenera toda a doença e todo o mal. Tão cheia de ti, como ainda estás, como pensas que curarás?

Um dia serás tão só ausência pura,
E feita névoa iluminada a tua alma
Voarás desnudada pelo céu.
Então onde tu fores estará a calma,
Onde estiveres estará a Luz do Eu.~

E não mais habitarás a veste escura
Em que as asas do Anjo se implantam.

Enfim serás a rósea nuvem da doçura
E duas mãos que à Deusa se levantam.

Maria (mater)

Despersonalização (comentário 1)

Sem Morte não existe Nascimento. Se quereis nascer como Sacerdotisas, tereis de morrer como mulheres.

Morrer como mulher não significa negar o feminino, mas antes transcendê-lo e vivenciá-lo naquilo que possui de mais sublime e mais sagrado: o Amor a todas as coisas vivas, a Maternidade de todas as coisas vivas - sem excepções.

Despersonalizar-se é ter a coragem de retirar a máscara. Mas, cuidado, porque está bem colada ao rosto e é muito astuciosa, disfarçando-se com disfarce debaixo de disfarce!

Ter alcançado o dom da Despersonalização não significa dizê-lo. Quem fala de si e das alturas que alcançou, é porque ainda não morreu.

Fazer qualquer referência a si própria, mesmo que negativa, é ainda estar bem viva, e da pior forma: com remorso e culpa.

Mas fazer referências elogiosas a si próprio consegue ser ainda pior - é o mesmo que acreditar que lá por uma pedra se ter tornado preciosa, possui mais valor do que a montanha no seio de que se criou.

A Sacerdotisa não fala na primeira pessoa. Deveria pensar em si como “ Ela, a Sacerdotisa “.
A Sacerdotisa que diz: “ Eu fiz! Este mérito é meu! “ acredita absurdamente que em meio de tantas galáxias e ninhos de estrelas, ela consegue criar individualmente.

A Sacerdotisa que diz: “ Eu não sou capaz! Eu não sei fazer melhor “ está a condenar-se a si própria à mediocridade e, pior que isso, está a pedir perdão e a incitar ao reconhecimento de um mérito que disfarça sob uma falsa modéstia.

A Sacerdotisa que, no Sacrifício da Missa ousa usar o privilégio da Homilia para fazer auto-referências, boas ou más, está a desperdiçar a ocasião e a oportunidade que o Mestre lhe dá para acordar os outros, enchendo o ar com palavras de vento, proferidas pela máscara. Nos Ofícios Sagrados é-vos proibido falar de vós mesmas.

É preciso esquecer o que fomos há instantes, para recordar quem seremos daqui a instantes.

Nunca faleis do passado, nem mesmo do mais próximo e mais feliz ou mais traumatizante. Fazendo-o, tentais parar o mundo que quer girar.

O vosso umbigo deve ser o centro do Mundo, ó Sacerdotisas - mas não do vosso mundo particular - de todo o Cosmos Criador, e quem se assume como Umbigo (Omphalus), liberta-se do resto do corpo. Dai o umbigo que sois, ao mundo.

Maria (mater)

Despersonalização

Uma Sacerdotisa há-de despir a personalidade com que foi nascida, para que possa renascer.

Uma Sacerdotisa não possui personalidade, pois que deixou cair todas as máscaras para que a Senhora a tome, assim, renascida, e através dela possa Obrar a Obra Divina - que é a única que a merece.

Uma Sacerdotisa não se reserva para si própria, e dá-se, dá-se sempre, numa infinita alegria de se dar, até que nas mãos vazias não fique mais que a Luz brilhante da ausência de si própria. Com essa Luz, uma Sacerdotisa pode curar e regenerar até o mundo inteiro.

Uma Sacerdotisa constrói lentamente as suas asas, para que de mulher se torne em anjo, e de carne se torne em puro ar e pura névoa...

Maria (mater)

Rendição (comentário)

A rendição ao Destino constitui a mais alta forma de liberdade para o ser - pois que o Destino foi por ele próprio traçado durante a vida antenatal. Quem se rende ao Destino, rende-se pois, não a um poder impositivo, mas a si próprio.

Rendição não é subjugação - é o reconhecimento de um Poder que nos é Superior. No caso do Ser, o reconhecimento da ascendência do Espírito sobre a personalidade, pois que quem escolhe o Destino da personalidade é o Espírito, durante a vida antenatal, como se disse.

Nunca o Mestre vos dirá: Subjugai-vos ao vosso Destino, mas antes, rendei-vos a ele, como a alma se rende perante a beleza de uma paisagem ou ao voo largo de um pássaro.

Render-se ao destino é querer aquilo que Deus quer - que maior glória?

Se dizeis não conhecer o vosso Destino, meditai sobre ele - pois que está traçado nas linhas de força que constituem a vossa Alma, nas linhas desenhadas sobre a palma das vossas mãos e no mapa que se desenhou no céu no momento do vosso nascimento físico. Tudo são sinais do mesmo Poder.

Não digais que vos podeis enganar, pois quem ouve o seu Eu mais profundo, nunca se engana. Enganais-vos porque apenas escutais essa voz insidiosa dos vossos desejos.
E como podeis conhecer a diferença entre a voz do Eu e a voz da personalidade? Não há engano possível: o Eu fala-vos de Altruísmo e Serviço ao Próximo: a Personalidade fala-vos de Egoísmo e de Serviço Pessoal.

O Destino inclui sempre uma tónica de Serviço, pois o Espírito que o ditou é perfeito e, conhecendo o Plano Universal, colabora com ele e jamais se lhe opõe.

Por vezes acontece que, apesar de ser altruísta, o Destino está errado, pois a sintonia entre o Eu e a Personalidade se tornou difícil e esta interpreta mal as mensagens recebidas. Como o sabereis?

O Destino está errado quando gera insatisfação interior, tristeza e dor. O Destino certo pode gerar dificuldade e sofrimento, mas nunca Tristeza, Dor e Insatisfação na alma.

Quem se rende ao seu verdadeiro Destino mergulha na beatitude cósmica, por mais árdua que a tarefa seja! Por maior renúncia que exija! Por maior sofrimento que implique!

Sofrimento e Dor são coisas distintas: Sofrimento é consequência da rendição ao Destino. Dor é consequência da fuga ao mesmo. Dói-nos porque rejeitamos. Sofremos porque assumimos.

A Dor é o método usado pelos Senhores do Destino, para nos ajudar a conhecê-lo ; o Sofrimento é consequência da Iniciação que ele implica.

A Dor destrói a trama sensível da alma, tal como o fogo destrói a carne ; o Sofrimento fortifica e enobrece a alma, tal como a Vontade disciplina o corpo.

Dor e Sofrimento caminham de mãos dadas. A Dor, porém, é eliminada quando se assume o Destino. Quanto ao Sofrimento, é inerente a toda a manifestação material.

O Cristo IESUS assumiu no Seu Dharma (Destino) o Sofrimento Universal. Ele é o Senhor do Sofrimento e da Libertação através do Sofrimento.

O mais elevado expoente de Sofrimento é simbolizado pela penetração dos Veículos de Cristo no corpo físico do Planeta.

Deus, na Sua terceira esfera manifestativa, é a Senhora - A que se auto-sacrifica emanando uma parte que cede de Si Própria, para o mistério da Criação. Que assim o façam desde já as Suas Sacerdotisas.

Maria (mater)

Rendição

Uma Sacerdotisa não pode querer controlar o seu Destino, pois que o Destino lhe não pertence, mas Àquele que a mandou, para que servisse o Senhor dos Mundos.

Uma Sacerdotisa não pode querer que o Destino se conforme com os seus desejos, mas há-de compreender que será ela quem terá de desejar o que o Destino lhe pede.

Uma Sacerdotisa assume o Destino - pois que fora dele não existe Ser nem realização!

Maria (mater)

Suavidade (comentário)

A agressividade nasce de uma alma prisioneira de si própria - quem está livre não agride. A agressividade é o mais pestilento fruto da revolta - porque não é mais que angústia que não se consciencializa, não se assume e não se enfrenta.

E lembra, ó Sacerdotisa! A Inconsciência é o único pecado!

A suavidade, ao contrário, nasce da consciência de que tudo está bem no universo - mesmo aquilo que parece estar mal. Suavidade é resignação e nasce da confiança. Esta não julga o motor de todos os acontecimentos - Deus. Não se atreve a tal. Por isso é que o agressivo é orgulhoso: permite-se julgar o que não pode ser julgado e avaliar o que não pode ser avaliado.

A suavidade caminha pelo universo de mão dada com a música: a Harmonia perfeita. Tudo o mais não passa de engano e ruído.

Muitos se envaidecem tomando poses para que os julguem verdadeiros aristocratas. Falam baixo e imitam em seus gestos estudados os gestos simples e espontâneos da Suavidade. Porém, bastará um pequeno desaire, uma pequena pedra no caminho e logo se revelará a mentira construída.

Sabe, ó Sacerdotisa! Terás de renascer de uma nova e Verdadeira Aristocracia, sem pose e sem mentira - a da Suavidade engendrada na Pobreza, no Despojamento e na Humildade, em suma, terás de renascer da Liberdade!

Agressividade e stress são o par maléfico da destruição. O stress é uma mentira inventada pelo demónio: a de que o tempo falta. Não saberás tu que o Tempo é a vestimenta da Eternidade?

E com esses falsos argumentos vos engana a sombra, e vos enfeitiça para que não possais ver a eternidade que existe em tudo.

Começa pois a ver o Tempo como Infinito e acalma o teu coração. E toda a acção terá para ti a dimensão do momento que é o Tempo Eterno.

Maria (mater)

Suavidade

Uma Sacerdotisa é suave como a música das esferas. É calma como as fontes murmurantes. Límpida e translúcida como a claridade que desponta por entre os montes, no alvorecer...

Uma Sacerdotisa nunca se apressa, pois não cede ao stress. Ela conhece o valor inestimável de cada instante, que sabe fazer valer uma eternidade.

Os seus gestos são ritualizados e plenos de sentido.

Ela tem sempre tempo, pois no tempo se move com à-vontade e graça, e dançam à sua volta, para quem os sabe ver, os gnomos e as fadas...

Maria (mater)

Despojamento (comentário)

A posse não existe, somente a ilusão da posse!

No rio da vida, todas as coisas e seres correm da nascente para a foz. Não existe meio de as deter permanentemente.

O desejo de posse é a marca do trauma de insegurança. É a mais profunda raiz de toda a dor. Não aspires a possuir e toda a tua dor cessará!

Porque sobes ao pedestal instável dos donos? Não te bastarás a ti própria? O Mestre não te bastará? Lembra: Ele é a tua única posse legítima, aquela que conquistaste a pulso da alma. Alegra-te, pois!

Abre-te ao mundo com tudo o que és, com tudo o que possuis - e o Universo virá até ti, pois o Universo dá-se apenas aos seres livres.

Só aquele que não aspira a possuir, possui realmente tudo, pois nele não há desejo, e aceita a dádiva da vida indestrutível como a única posse real.

Só a vida foi oferecida por Deus como a única posse verdadeira, pois que nunca se destrói, até aos confins dos tempos, mesmo até ao caos!

Os teus filhos não são teus filhos, mas todos os filhos são teus filhos, ó Sacerdotisa, apenas porque agora és verdadeiramente Mãe!

Os teus bens não são teus bens, mas a herança da terra é a tua herança e o teu direito, pois que é a herança e o direito de toda a criatura.

Nada negues aos outros daquilo que possuis - é a única forma de te redimires do acto de posse e de finalmente liberares esse karma.

Recebe tudo, não possuas nada. Tudo o que recebes é uma dádiva - também o sofrimento (sobretudo o sofrimento!).

Ora assim: «Senhor, eu te agradeço por tudo o que me dás, e eu te agradeço por tudo o que não me dás, pois só Tu, Senhor, és a justa medida! Assim seja!»

Um dia tudo te será tirado, tu que vieste para assistir à queima de toda a escória - esse grande ritual! Nesse dia todos os pássaros do céu, todos os bichos da terra e todos os peixes do mar te cantarão um hino de liberdade! Nesse dia eu estarei presente, será o dia do Mestre e do Discípulo - o dia do nosso enlace!

Caminha pelas veredas da terra, descalça e nua e encontrarás a Santa Pobreza que te ensinará o caminho para o céu!

Recebe tudo em ti, mas deixa que tudo o que recebes permaneça livre para poder voltar para o seu dono.

A Lei Universal diz: quem dá aos pobres torna-se abastado! Quem são os pobres? Todos os que estão carentes de pão para o corpo e de amor para a alma. Como os distinguirás? Dá a todos - o Senhor escolherá por ti.

Sê como um saco de duas aberturas: tudo o que entra por uma, escoa-se pela outra.
Quando já nada possuíres, renuncia também a ti própria. Só então te tornarás Pontifex: Construtora de Pontes. Liberta e liberta-te - é a Lei!

Maria (mater)

Despojamento

Uma Sacerdotisa não pode ser dominadora nem possessiva. Não busca a que alguma coisa lhe pertença, pois a si própria se não pertence. Recusa a posse como a árvore recusa possuir os frutos que gera no seu seio, para os outros... ou a terra se recusa a possuir as flores para que todos se deliciem com a sua cor e o seu perfume, ou os grãos de cereal com que alimenta o mundo...

Uma Sacerdotisa não detém uma força no seu percurso um homem no seu caminho, uma criança na sua liberdade - pois o mundo caminha para a frente e não para trás, e querer parar uma seta na sua trajectória, é ficar com as mãos ensanguentadas e destruir uma luz pura que antes caminhava sobre o horizonte.

Uma Sacerdotisa não pretende modelar os destinos alheios, ainda que por amor. Submete-se ao Cosmos com humildade, aceitando os grãos de luz que lhe caiem no regaço.

Uma Sacerdotisa não possui.

Maria (mater)

Misticismo (comentário)

Houve tempos em que o homem sacralizava os lugares que habitava, pois tinha a consciência de que essa atitude o diferençava dos seus irmãos animais e o aproximava mais dos seus Mestres - os Anjos.

Hoje a humanidade perdeu o sentido do sagrado e, por isso, da atitude anterior, apenas restou a forma degradada do luxo e muitas vezes do mau gosto. Tal como as palavras do homem já não contêm os germes da criatividade nem são envolvidas pelos diáfanos véus da aristocracia espiritual, também as casas dos homens deixaram de ser Templos e tornaram-se simples lugares de preguiça para a alma que chora.

Ainda que esgotes o teu corpo com milhentas e úteis actividades domésticas, se não houver espaço reservado para a actividade da alma, estarás a destruir os germes da tua própria sobrevivência - e não habitarás senão em mais um lugar sem nexo!

O Templo é o teu lugar e tu serás um dia o lugar do Templo, minha Pomba Azul!

Cada milímetro do Templo foi sacralizado pelo sangue que lhe entregaste, quando te entregaste ao Sacerdócio! Por isso nele habita o Mestre e a Senhora habita: o seu quadrante ocidental sendo repleto da Luz Azul do fim do dia.

Também tu virás a ser o Lugar Ocidental aonde a barca que transporta a alma conduzirá os irmãos à sua luminosa morada derradeira.

No Templo a natureza suspende a sua respiração para ouvir a voz dos filhos da Luz que se ergue calma como um Anjo de Sol Sagrado.

No Templo, janela quer dizer janela e porta, porta, e não existem mais sofismas para alimentar os labirintos do concreto pensamento.

O Místico é aquele que olhou o mistério de frente, sem pestanejar e se constituiu como um intermediário entre o segredo e os outros homens. O Místico não cessará jamais de velar, revelando.

Sem Misticismo não serás uma Sacerdotisa, mas uma simples pose vazia. Sem revelares, não serás mística, por isso o Mestre te exorta a que fales.

Quem tem o Templo dentro de si, nada mais tem dentro de si. Por isso os outros te verão vazia, e assim deverá ser, pois só a quem está vazio o Espírito pode preencher!

Que o Templo não seja conspurcado! Ou tu própria te tornarás conspurcada!

Entrar no Templo é penetrar num lugar Sem Tempo, ou de Tempo Total. Cuidado! Porque se estiveres tocada pelo vício, perder-te-ás nessa outra dimensão, e dela só poderás regressar pela loucura e pela inversão da força!

Nenhum Poder é maior que o Poder da Sacerdotisa ordenada pelo Mestre e habitando o Templo da Luz: não lhe tocarão, tocando-a. Vendo-a, não a verão. Não a escutando, escutá-la-ão!

Entra no Templo, Sacerdotisa! Entra no templo! E deixa que o Rei da Ilha Encoberta te possua com o Seu Fogo Iniciador.

Maria (mater)

Misticismo

Uma Sacerdotisa põe acima de si o Templo. Ele é a sua casa e só nele verdadeiramente vive. Nenhum lugar do mundo, casebre ou palácio é para a Sacerdotisa lugar de maiores delícias que o lugar do Templo.

Uma Sacerdotisa é forte. Nenhuma força exterior a bate, nem nenhuma força interior. Ela se ergue de todas as depressões, de todas as dúvidas e de todas as dores, para ouvir e obedecer à voz do Mestre.

Uma Sacerdotisa é corajosa. Ela enfrenta o mundo com a sua única arma: coragem e persistência. Jamais cede, nem ao mundo nem a si própria, mas apenas à verdade que a transcende.

Maria (mater)

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Humildade (comentário)

A futilidade e a arrogância não entrarão no reino dos céus! Benditos os humildes de coração, pois o seu coração, algures no tempo cósmico, se encontrou com o Coração de Nosso Senhor O Cristo.

O ser fútil ama o supérfluo e o inútil.Que do teu coração, Ó Sacerdotisa, seja expurgada toda a futilidade! Tu, que te ofereceste ao Serviço da Senhora, como ousas almejar àquilo que Ela repudia?

Do nada Ela faz muito! O pouco Ela multiplica! Tu, porém, pegas no muito que te é dado e ao nada da tua vaidade o reduzes, qual predador, abocanhando aqui e ali! Cuidado! Para que sobre ti não caia o pecado do mundo!

Que nunca as Filhas da Senhora se julguem grandes demais para os trabalhos a que são convocadas! Pois é do pó da terra e do seu barro que o corpo constrói outros corpos, e é das almas grandes que as pequenas almas se alimentam. Possas tu ó Sacerdotisa, tomar o pó da terra, e oferecer a tua alma à fome da humanidade que te rodeia.

A humildade de si própria se esquece. Tu, porém, ó Pomba Azul, teimas em manter: Um nome! Uma estrutura mental! Um coração subjugado à tua ideia de mundo!Puderas esquecer o que és para recordar ao que vieste!

Cessar de ser, é encontrar a existência na tua Criadora e ser apenas esse sonho da Mãe, que é adoçar a existência de todas as criaturas, as que merecem e as que não merecem - porque só o Senhor tem a medida, e como pois, poderias tu, pequeno Ser, medir?

Entrega ao Anjo da Espada a ânsia de Justiça, pois que só Ele pode remediar sem destruir! Só Ele pode repor Verdade e Justiça sem apagar do mundo o brilho diáfano da Beleza.

O fútil torna o mais belo percurso inútil! O fútil destrói na raiz da alma a força da Vontade e da Resistência, pois a futilidade amolece toda a disciplina com o canto ilusório da beleza passageira.

E tu, que vieste para transformar matéria em Luz, como ousas ainda vestir o teu corpo à custa dos véus azuis da alma?

Maria (mater)

Humildade

Uma Sacerdotisa não pode ser fútil. Sabe distinguir o fundamental do acessório, o importante do supérfluo e só ao fundamental dedica o seu tempo e a sua vida. Desdenha a vaidade do mundo pela humildade do céu.

Uma Sacerdotisa não se demite dos seus deveres, nem sobrecarrega ombros alheios com as suas cargas próprias.

Uma Sacerdotisa não é frágil, pois que é o corpo e as suas limitações quando o espírito está verdadeiramente presente? Não transforma ele a matéria mais fragilizada, temperando-a de força e tornando-a invencível?

Só a Vontade transforma a matéria em Luz. Só a Vontade dá ao anão a estatura do gigante.

Maria (mater)

Perseverança (comentário)

À mais árdua tarefa, à mais impossível, Sacerdotisa, dirás sim.

Terás de aprender o segredo da «água mole em pedra dura». Não esqueças, és eterna.
Na ausência do tempo, isto é, no tempo permanente que se encontra todo no milésimo de um instante, é que se encontra o segredo da Perseverança.

Porque, correndo sempre, desistes tanto? Melhor fora que não corresses, pois as tuas pernas fizeram-se para andar e o teu coração ama o ritmo e a marcha, não a correria. Não corras mas caminha sempre, ó Peregrina!

Cansa-se quem não caminha ao ritmo do coração. Cansa-se quem não vê o corpo como um templo, quem não o mantém preparado e belo para que nele habite a Divindade. Cansa-se quem abusa. Abusar é infringir a Lei - seja em que plano ou actividade seja. Não te canses, ó Sacerdotisa, para que venha o esposo e te ache bela e revigorante. O teu esposo, ó bela dama, é a Humanidade toda.

O Mundo não pára, o Universo não se detém, caminha, sempre à mesma velocidade. Espiral a espiral se dilata e anda e não sabe para que fim. No último instante de Deus, ainda então, dará o último passo - para a frente e para cima.

Que importa que venha a morte e te colha como um fruto? Pertencerás então ao mundo, farás a tua última dádiva. Que a Divina Ceifeira te não encontre extática e apodrecida!

Quem pára, quem desiste, quem baixa os braços, cede à putrefacção. Na verdade não está parado, pois tendo iniciado um movimento contrário à expansão do Universo, na realidade regride.

Não te detenhas - persevera. E que te não preocupem as metas. Que cada próximo pequeno passo seja a tua próxima grande meta. Empenha-te! Assim, passo a passo, gesto a gesto, conquistarás o Universo inteiro.

A ideia da própria pequenez é a desculpa dos cobardes para se demitirem. Já pensaste na pequenez dos vírus e das glândulas? Quão absurdo seria desprezá-los! Ao dares pequenos passos entrarás na sabedoria do infinitamente pequeno - e alcançarás a compreensão do seu poder.

«Vai em direcção à Visão, em direcção à Visão! Vai em direcção à Visão!», disse o Sábio. O Mestre diz-te: jamais feches os teus olhos!

Persevera! E junta-te ao movimento de expansão universal! Não te detenhas! Sê como o Filho do Homem, que não «tem onde deitar a cabeça», ou como o Espírito do Sol que não tem estações na sua rota.

O Universo todo pulsa sem cessar.Pulsa tu também.

Maria (mater)

Perseverança

Uma Sacerdotisa é perseverante, nunca desiste nem recua, mesmo perante uma grande tempestade.

Uma Sacerdotisa sabe escutar, e encontra sempre a palavra certa para um coração aflito. Ela é ternura e amor. Ela é um baluarte aonde o filho do Homem pode descansar a sua cabeça.

Uma Sacerdotisa é sedutora. As suas palavras encaminham para ela a multidão, despertando-lhe a benevolência... A sua inteligência faz com que lhe seja possível fazer ver rosas aonde só existiam cardos, fazer ver a luz oculta nas maiores trevas e o sonho na maior prosaicidade.

Uma Sacerdotisa vive num mundo de magia e nesse oceano de beleza faz mergulhar aqueles que a rodeiam.

Maria (mater)

Lucidez (comentário)

Tudo é ilusão. Ilusão é a raiz da própria existência. Quando a ilusão cessa, a existência cessa também, e o ente transporta-se para o nível do ser - isto é, regressa a casa.

Ser lúcido não é ter a Luz - é sê-lo! Então luzirás e serás vista em redor, e a distância não terá mais significado para ti, ó Luminosa!

Ser lúcido é sofrer, não é ter dor. Sofre a dor do mundo e compreenderás que tudo está bem contigo.

A inocência da infância é a santa ingenuidade.A inocência do adulto é a santa ignorância.Os santos ingénuos e os santos ignorantes sempre se protegerão a si próprios - porém, nunca ao mundo. É por isso que ingenuidade e ignorância são o meio do caminho no fim do qual se encontra a lucidez. O que significa que ambas são também um estágio a vencer: um estágio de egoísmo e autoprotecção, correspondente a uma época infantil da humanidade.

Que pretendes: protegeres-te ou protegeres? Eis a questão.

Ó Santa Mãe Consoladora!Mãe Protectora!Desce sobre as minhas Sacerdotisas
Para que participem da Tua Luz!

Vai em caminho às estrelas, em caminho às estrelas - sê lúcida! Tu cujo corpo é corpo do país da lucidez! Luze!

A visão é a mais preciosa auxiliar do discernimento. Vê tudo: só depois analisa, para que possas compreender.

Nada mais triste do que uma mente preconceituosa, pois é cega, e uma mente cega não tem luz, vive na sombra!

Maria (mater)

Lucidez

Uma sacerdotisa não pode ser inconsciente. Os seus olhos e a sua alma estão sempre atentos e não confunde luz com sombras.

Uma Sacerdotisa não pode ser envolvida nas ilusões de Maya, a cada passo.

Uma Sacerdotisa é pura, mas não ingénua nem inocente, pois a ingenuidade e a inocência são apanágio das crianças - e uma Sacerdotisa não é infantil, mas antes porta a maturidade que em si porta a Sabedoria.

Pois que seria do rebanho se o pastor fosse ingénuo perante as artimanhas da ovelha que quer fugir para se perder no deserto árido? Ou fosse inocente perante o lobo que vestiu a pele de cordeiro e assim se infiltrou entre as ovelhas para as devorar?

Maria (mater)

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Os 4 pecados materiais

O teu maior pecado é julgares!
O teu segundo pecado é não sorrires ao mundo com o coração!
O teu terceiro pecado é não estares disponível e entregares-Me apenas as sobras do teu tempo e do teu amor!
O teu quarto pecado é não seres livre!

POR AGORA DIREI BASTA!
OU ME SEGUES OU NÃO ME SEGUES!
OU ME QUERES OU NÃO ME QUERERÁS MAIS!

Maria (mater)

Generosidade (comentário)

A Taça é na sua realidade mais profunda o próprio Símbolo da Generosidade, pois que foi concebida pela Deusa como representação daquelas e daqueles que se esvaziaram para que o Amor da Senhora os encha.

Ora pois, como é possível que as que guardam a Taça, que a erguem perante o altar do Mestre e perante o altar do seu próprio coração, ainda se encontrem tão cheias de egoísmo e indiferença? Negar-se-ão a si próprias?

Em verdade vos digo: é grande a infracção daquela que toma em suas mãos o Símbolo Sagrado sem que se torne no próprio Símbolo!

Como olharia Isabel de frente? Não é Ela a Beleza de Ísis, a Isisbela? Não é Ela o «Vero Graal da Generosidade»? Como se olharia a si própria de frente?
Olha-te por dentro - tu que tão altas ideias tens acerca de ti própria!
O Símbolo nunca é exterior a quem o manipula.

Não existe tal coisa como uma Sacerdotisa erguendo um Símbolo!
Não há um ser que toma um Símbolo, de um lado, e o Símbolo do outro lado. A identificação ou é Total, ou não há Sagrado, mas hipocrisia.

Que o Serviço nunca seja analisado como se analisa um cesto de maçãs para separar as sãs das podres! Quem ousará dizer: esta criatura deve ser servida, aquela outra não deve! Esta criatura é pura, aquela outra é impura! Eu sou superior a esta, eu sou inferior àquela. A esta eu não servirei, a esta estou disposta a servir!?
Como o saberás? Serve a todos, como faz a Deusa, que entrou na maldição do tempo para dar o seu próprio corpo a santos e a malfeitores!

Que te dispas da loucura humana, ó Servidora! Que te possas dissolver!

Maria (mater)

Generosidade

Uma sacerdotisa é generosa. Não tem vida própria, pois a si própria se não pertence, mas ao Mestre a Quem segue.

Uma Sacerdotisa está sempre disponível para os outros, sejam eles quem forem... todos sabem que podem contar com ela.

Uma Sacerdotisa é doce, as suas palavras são como o mel, o seu rosto é um lago de paz para quem a procura. Tem a simplicidade de uma serva e a dignidade de uma rainha. Ela é uma princesa que guarda o tesouro da humanidade - o Santo Graal.

Maria (mater)

quinta-feira, 16 de junho de 2011

A questão da R+C



A propósito da R+C, enquanto filosofia esotérica, tudo estará ainda por dizer. E não por falta de documentos ou de vivência histórica, sendo aliás uma das poucas vias que pode apresentar provas de actuação ininterrupta ao longo dos últimos séculos. O que se passa é mais complexo: assumindo-se diversos grupos, sobretudo a partir do século 17, como detentores da legitimidade filosófica, e sendo todos eles bastante diversos na forma de abordarem os mistérios e a gnose, criou-se uma espécie de torre de babel em que cada um fala a sua língua e em que ninguém na verdade se entende.

Posto isto, de que se fala quando se fala de filosofia R+C? Fala-se do que cada grupo entende por esse termo, mesmo que um entenda Cabala Judaica e outro Magia Operativa: é o caso da R+C de Papus e da Aurora Dourada de Crowley.

E no entanto, apesar de na aparência não existir concordância sobre a definição do termo, continua a existir tacitamente acordo quanto ao uso da expressão R+C a propósito de um conjunto de forças, de arquétipos, de símbolos, e de discípulos que ao longo dos anos os vem manifestando.

E nisto é que reside o paradoxo: que se aceite esta disparidade de conceitos a propósito de algo que na aparência é uma só coisa. E não só que se aceite, mas que se viva e defenda essa mesma diversidade, como se nela residisse uma das vertentes da própria filosofia.

Esta questão é tanto mais interessante e estranha, quando se sabe da incapacidade humana para aceitar a diversidade. E ainda por cima aceitá-la nos outros. E pior ainda, legitimá-la.

Tudo isto nos leva a concluir duas coisas: primeiro que a R+C não é uma filosofia intelectual, mesmo que se apoie em determinados princípios esotéricos, é antes uma filosofia de vida ou um projecto; segundo, que falar de R+C só tem razão de ser desde que se entenda por esse termo o seu sentido mais vasto, ou seja o de cúpula organizativa ou de hierarquia.

De acordo com o Mestre, perde-se na origem da humanidade a própria origem da Ordem dos Cavaleiros de Aton (vulgo R+C). Oriunda das estrelas e das hierarquias que de longe velam por nós, a sua origem (embora com outras designações e atributos) extravasaria aquilo que entre nós aconteceu e que podemos ser tentados, numa abordagem imediata e relativa, a pensar. Por outro lado, e ainda segundo o Mestre, as suas origens, neste planeta, remontariam àqueles que construíram e edificaram a civilização do Alto Egipto.

Sendo isto verdade, teríamos de fazer remontar as origens da R+C aos inícios da civilização e humanização do próprio planeta, logo e por inerência, àqueles que mais tarde se vieram a constituir em organização planetária e em garantes da própria evolução: estamos falando da Grande Fraternidade Branca.

É fácil de perceber o que tais origens implicam: um compromisso com as hierarquias estelares e seu projecto para este planeta.

Já não, como é norma, um plano de duração relativa suportado pela necessidade de manifestar numa dada época esta ou aquela ideologia, mas algo demasiado vasto para que lhe possamos aperceber os contornos ou para que, mesmo vivendo integralmente em função dele, algum dia nos possamos assumir como parte sua.

Esta dimensão, demasiado vasta e complexa, é que tem tornado, a nosso ver, impossível definir a R+C como se definiram tantas outras organizações. E se é verdade que através de algumas delas foi a própria Ordem que se manifestou (será o caso dos Irmãos Templários), o estudo destes grupos em nada nos elucida ou ajuda a entender o projecto maior em que tudo isto se insere.

Talvez por esta razão, ou ainda pela própria indefinição em que os grupos ditos rosacrucianos se movem, optaram os historiadores por se agarrarem a fragmentos históricos (ou àqueles que os viveram) como forma de explicarem algo que a todos ultrapassa: o projecto R+C.

O fio da história não é linear, mesmo quando aqueles que o vivem apenas se situam no plano imediato.

É verdade que existe a história cronológica e que esta se baseia num conjunto de forças que se vão expressando por uma continuidade, mas paralelamente a esta continuidade existirão outras forças (chamemos-lhes arquétipos) que impregnando o inconsciente colectivo e individual, fazem por vezes emergir aspectos que desencadeiam, ou a repetição cíclica ou o salto no desconhecido. Estes dois movimentos, linear por um lado, e descontínuo por outro, são paralelos e a nenhum deles podemos com propriedade atribuir tudo.

A história da R+C não faz parte da Historia, mesmo que os seus discípulos façam parte dela. Movidos por forças que na maioria das vezes não entendem, as suas acções ultrapassam-nos. Inserem-se, é verdade, num projecto contínuo, mas porque ligados ao seu tempo e às contradições da sua época, mais não entendem que o pequeno fragmento que através deles emerge. E mesmo quanto a este, dificilmente o vêem na sua totalidade.

A história da R+C é (a nosso ver) a história das almas em manifestação temporal e da sua encarnação sucessiva para dar corpo à Obra.

Vindos das estrelas, dormem ainda em vida suspensa, depositados os seus invólucros carnais nessas naves luz que, pairando em orbita numa dimensão paralela ou escondidas em cavernas profundas, lhes servem de lar e de refúgio. É assim desde sempre e para sempre será a menos que esta humanidade sua filha e herdeira ultrapasse a barreira psicológica do egoísmo que faz odiar o irmão e amar o abismo. É assim há tanto tempo que já lhe perdemos a recordação e sobre essa época só temos lendas.

Sobre o antigo Egipto temos mitos, sobretudo aquele de que a civilização terá começado ali. Na verdade até pode ter começado, sobretudo se pensarmos que sob o símbolo Egipto se esconde, não a realidade geográfica que lhe associamos, mas uma espécie de terra simbólica ou mistura de diversas épocas.

O Egipto do Mestre não é nem foi nunca o Egipto de que a História fala. O Egipto do Mestre foi antes uma civilização que se estendeu por todo o planeta e que em certos lugares, escolhidos decerto pelo seu telurismo, criou focos de cultura e humanidade cruzando espécies e depositando sinais. Portugal (ou melhor, a Lusitânia) será um desses lugares.

Na bandeira da nação lusa, numa genial intuição ou antecipação do futuro, alguém colocou os sete castelos da Iniciação. É assim, desta forma estranha e às vezes absurda, que a realidade emerge e nós, ou vemos porque sabemos, ou passamos ao lado e não damos conta.

Na bandeira, toda ela símbolo e analogia (como diria Pessoa), estão os lugares reais da Obra dos Irmãos. Mas está também o próprio mundo, já não e apenas na configuração limitativa das terras e dos continentes, mas na liberdade espiritual que os suporta. Está ainda, para quem queira ver, no cruzamento das linhas e na figura da cruz, esse reino agartino enquanto lugar central para onde convergimos. E por ultimo, mas não menos importante, nos dois campos paralelos, verde e vermelho que, unidos darão lugar ao ouro filosofal da esfera armilar (ou Obra realizada) as forças básicas, casadas e unidas na realidade maior que é a própria Obra. É isto tudo e muito mais que a bandeira oculta.

Aos Lusos sucedeu Portugal. À primeira fase do projecto de espalhar a luz e definir os contornos da civilização planetária através de povos organizados em núcleos restritos, sucedeu a segunda fase de encabeçar a Europa e de lhe dar um rumo. Por isso a independência, por isso a fase das Descobertas, por isso a busca do reino do Pai João, por isso ciclicamente o emergir de dinastias que, fruto da genética celeste e terrestre, encarnaram e manifestaram o casamento alquímico do Céu com a Terra através do Rei e da Rainha.

Foi assim com Dinis e Isabel. Porquê? Para anunciar os alvores de uma nova dispensação, a mesma que estamos agora tacteando: esta ideia de haver um Quinto Império que suceda e sintetize os quatro que já houve, mas que seja maior do que estes e sobretudo que não os copie.

Sobre o Quinto Império podemos imaginar quase tudo, sobretudo se recuarmos ao simbolismo das festas do Espírito Santo que desde esta dinastia se organizam. Vejamos as ideias chave: coroação do Menino Imperador (ou seja, do Rei do Mundo); abertura das prisões e libertação dos cativos (ou seja, libertação das prisões carnais e ideológicas em que a humanidade se aprisionou e onde sofre); partilha e distribuição dos bens por todos (ou seja, dar a cada um segundo as suas necessidades e assumir que na verdade tudo pertence a todos); entronização da pomba enquanto força do Espírito Santo (ou seja, assumir que a nova era, regida pela Criança, representa um salto qualitativo e não uma mera continuidade daquilo que somos).

Portugal titubeou face à dimensão da missão que lhe era pedida, titubeou e perdeu-se: ou não?! Aqui as opiniões divergem.

Para uns sim e por isso a necessidade de expiar em Alcácer Kibir os pecados da gula, do egoísmo e da riqueza inútil. Para outros não, porque afinal Portugal fez as Descobertas, contribuiu para aproximar os povos, gerou cultura e fez-se grande, tão grande que chegou a tentar intitular-se Centro do Mundo e ao Rei de Portugal, pela mão da Igreja, houve quem o coroasse Imperador.

Era assim o Portugal imperialista de antes do terramoto e mesmo depois deste continuou sendo através desse projecto urbanístico que criou uma rua Augusta, tendo a ladeá-la uma de Ouro e outra de Prata, todas desembocando numa praça onde tutelavam os poderes simbólicos e reais das artes, dos ofícios, dos políticos e da finança.

Como estranhar o absolutismo de reis e de ministros que, assumindo-se ou supondo-se mensageiros de Deus na Terra, exorbitaram por isso os poderes que a orientação dos outros lhes concedia? Ou até, mais perto de nós mas não menos estranho, esse absolutismo de Salazar que, copiando o pior dos reis “por direito divino”, se acabou assumindo uma espécie de messias de um estado novo só na aparência.

Cópia em segunda mão desse outro messias que havia de conduzir a Alemanha (nação gémea de Portugal e outro dos castelos da R+C) para o cadafalso? Na verdade não: Salazar reinou e viveu como um monge. Preferiu às luzes da ribalta o silêncio do claustro, e também não consta que tivesse alguma vez adorado os deuses antigos, pelo contrário.

Época estranha a de Salazar de Hitler de Mussolini e de Franco, onde de repente emergiram forças contracionárias (talvez em resposta à revolução bolchevique) e onde os ditadores apareceram vestidos de sinais messiânicos, encarnando e invocando os abismos da psique.

São estes os sinais do tempo: palcos improvisados onde se celebra a entronização de forças obscuras. E no entanto, disfarçados e intocáveis, os discípulos da R+C não desistem.

Para onde vai o mundo? Vai para onde quisermos: vai para o abismo do absolutismo despótico ou para a glorificação da Criança e para a edificação do reino do Espírito Santo. Nós é que escolhemos – nós e aqueles que velam por nós.

Amarna, 2004
JC

A Comunidade II



A comunidade será sempre uma expressão vazia de sentido se não a interiorizarmos. Porque mais importante do que vive-la no exterior será assumi-la no intimo. Então podemos dizer que antes de partirmos para a vida comunitária teremos de alcançar e realizar na alma o entendimento da partilha, da dádiva e do despojamento.

Os outros são os espelhos em que nos reflectimos. Pelo que a comunidade será sempre um lugar de paz ou de guerra, consoante aquilo que tivermos dentro de nós. Ora se é permitido ao homem vulgar a instituição da guerra e do conflito como norma de vida e conduta, ao discípulo só lhe é permitido semear a paz e o amor.

Por vezes temos dificuldade em lidar com a agressividade uns dos outros. Esta dificuldade dá-nos o motivo para recusarmos a partilha e para adiarmos a adesão àquilo que será talvez a única forma de realizarmos o nosso discipulado.

A comunidade (enquanto modelo) não é apenas uma solução para os Irmãos: é também a solução possível para a maioria dos problemas que os seres humanos tem vindo a enfrentar desde que a organização da “polis” se iniciou e que optamos por viver em sociedade.

Ao longo da história humana o modelo da vida comunitária tem prevalecido e tem demonstrado o seu valor. É por isso que os grupos espirituais e religiosos o escolheram e é também graças a ele que conseguiram resistir e prosperar, mesmo nas piores condições.

Quer os Essénios em pleno deserto, quer os padres do deserto recolhidos nas cavernas do Sinai, quer as comunidades ortodoxas do monte Athos na Grécia, quer as Igrejas protestantes ou católicas em África e na América Latina, quer ainda, mais perto de nós, o movimento Templário na Terra Santa ou o movimento Franciscano nos montes de Assis.

Em todos estes grupos verificou-se o mesmo: a partilha das suas vidas permitiu-lhes resistir e crescer.

Ainda hoje, a quase totalidade das organizações religiosas ou místicas, quer existam no Ocidente ou no Oriente, optam sistematicamente por organizarem a sua existência no modelo comunitário. Não é por acaso.

Também os aldeamentos ditos ecológicos, quer se façam em redor de filosofias ou apenas na preservação dos recursos ambientais, optaram por partilharem capacidades e bens segundo o ideal comunitário.

Na verdade, é-nos impossível descobrir de que forma podem os Irmãos realizar o seu destino individual e colectivo, se não o basearmos na definição magistral do Mestre de que a comunidade é lugar em que os ricos ajudam os pobres e em que os fortes protegem os fracos.

Estando aqui, nesta definição, a verdadeira diferença que opõe e separa a sociedade comum daquela que pretendemos construir.

Há Irmãos que defendem a ideia de que é possível viver espiritualmente e em simultâneo manter os modelos sociais existentes. É possível se pertencermos à classe dos que detém o poder, os bens, e por consequência a liberdade para deles usufruir. Mas para todos os outros, sobretudo para aqueles que consomem a maior parte das suas vidas a garantir a riqueza e privilégios da classe dirigente, só é possível a escravização e a perda progressiva das suas almas.

Na verdade, o mais estranho, o mais absurdo, não é a constatação que diariamente fazemos de que as nossas vidas não nos pertencem – o mais estranho é que o sabemos mas somos incapazes de romper as cadeias que nos mantém submissos. Como se a escravização dos corpos escondesse a das almas ou prolongasse esta.

Amarna, 2004
JC

A Comunidade



A Comunidade somos todos. Não é um espaço físico situado aqui ou ali, seja no tempo ou no espaço: é uma alma que ensaia a aventura da vida.

Alguns pensam que Comunidade são esse conjunto de casas e outras estruturas que ao longo dos anos o esforço colectivo ergueu e mantém. Talvez isso seja o esqueleto, não é todavia a alma que o habita.

Se Comunidade fosse estruturas, então corríamos perigo de dissolução. Não é toda a estrutura uma organização limitada no tempo? Sobretudo limitada por aqueles que com ela se identificam e que por isso a alimentam com a sua vida?

No dizer do Mestre: Comunidade é situação em que o rico alimenta o pobre, em que o forte protege o fraco. O que nos remete para essa ideologia do Quinto Império tal qual a pregaram e praticaram Dinis e Isabel.

Reino da Criança onde uma criança assumia o dever de governar em nome dessa outra criança a que chamamos Rei do Mundo.

E partilha, sem condições de desigualdade, daquilo que sendo de cada um era também de todos: o pão, o vinho, os frutos, a liberdade de dar e receber.

Foi isto que outros inventaram antes de nós chamarmos aos nossos esforços: Comunidade! Inventaram para que nós, agora no tempo em que é possível, o vivêssemos também e multiplicássemos o exemplo para outros o fazerem um dia.

É assim que Comunidade se faz: pela multiplicação do que somos, pela partilha do que temos, pelo assumir do que trouxemos à manifestação.

Amarna, 2004
JC

Para lá da razão



A poucos meses da data indicada pelo Mestre para dar início à Comunidade dos Irmãos, confrontamo-nos com a eterna questão: seguir o Mestre, deixando tudo para trás, esquecendo responsabilidades sociais e humanas ou, ao contrário, tentar conciliar os deveres para com o Mestre com os deveres para com o mundo e as coisas do mundo?

Esta questão não é fácil nem simples. Por um lado temos o apelo da alma que se quer libertar das amarras do mundo. Por outro temos os deveres, ou aquilo que consideramos como tal, para nos recordarem que os compromissos assumidos não cessam pelo facto de voltarmos costas à cidade.

Postas as coisas deste modo, a solução parece impossível. E se-lo-á enquanto usarmos unicamente a ferramenta do raciocínio. É que pela lógica do mundo, e nós somos todos cidadãos do mundo, é absurdo trocar as facilidades, mesmo que ilusórias, daquilo que se tem, por algo que ainda não se tem nem se sabe se existirá algum dia.

A lógica do mundo é terrível, a prová-lo está a nossa indecisão. Pelo que nesta questão não podemos seguir unicamente pela via racional, temos de incluir aqui o princípio da fé. E a fé manda que tenhamos confiança no nosso destino, enquanto discípulos, que tenhamos confiança no Mestre, enquanto seus filhos, e que tenhamos confiança uns nos outros, pois que construir um projecto comunitário só é possível quando todos confiarem em todos e se amarem fraternalmente.

O princípio da fé, que não é de ordem racional, ultrapassa a dificuldade e coloca a questão num nível distinto. E a questão é: somos suficientemente corajosos para encarnar nesta época a missão de manter a chama da consciência acesa, ou não? Somos suficientemente corajosos para assumirmos a missão de levar a mensagem a todos aqueles que a quiserem ouvir, ou não? Somos suficientemente corajosos para acreditarmos que as forças que nos trouxeram ao mundo, hão-de continuar a velar por nós enquanto a nossa missão não estiver concluída, ou não? Tudo se passa neste nível.

Ao homem em cada um de nós, talvez seja legitimo expressar os receios quanto ao futuro: o que há de comer, o que há-de vestir, onde se há-de abrigar. Mas aquilo que é legitimo ao homem, por via do seu medo, talvez não seja legitimo ao discípulo, talvez seja uma traição ao seu Mestre.

Se o Mestre acreditou suficientemente nestes discípulos, porque havemos nós de descrer da sua fé? Ou será a razão do discípulo maior do que a consciência do Mestre? Se assim é estamos todos perdendo o nosso tempo e mais nos valia não estarmos aqui. Ao contrário, se houve alguma humildade quando batemos timidamente à porta do templo, então temos agora de dar o passo seguinte e contrapor a todos os obstáculos que o mundo entender inventar para nos deter, uma confiança total e absoluta naquele que a todos nos assumiu.

O primeiro dever do discípulo é seguir o Mestre. O segundo é confiar nas suas indicações. O terceiro é amar aqueles que o Mestre entendeu colocar à sua guarda. De onde deriva que nenhum dos irmãos estará isento de responsabilidades se algum se perder. Ou seja: somos responsáveis não apenas por nós, mas por todos os outros. E esta questão torna-se especialmente importante quando, daqui a alguns meses, uns vierem, porque tem condições para vir, e outros ficarem para trás, porque não as tem.

Pelo que a juntar a todas as questões aparentemente insolúveis, há ainda mais esta: somos uma unidade onde todas as partes são essenciais. Deste modo, querer construir uma comunidade, que na verdade é uma unidade de consciências, deixando de lado alguns, é não apenas um absurdo como uma impossibilidade. Se tentarmos ir por esse caminho, o que estaremos construindo não é mais que um ser inacabado.

Construiremos a comunidade quando nos juntarmos em redor da fé no Mestre, da obediência aos seus princípios, e no amor de uns pelos outros. Até lá projectaremos na parede baça do futuro as nossas intenções, que para uns serão mais claras e para outros mais obscuras, mas nada de fundamental estaremos construindo. Porque a verdadeira construção começa no espírito e termina na carne, começa na fé e termina na razão, começa no amor e termina na confiança. E sem fé e sem amor, a razão é apenas um obstáculo intransponível e o amor é apenas um egoísmo, mesmo que seja um egoísmo de muitos.

Por entendermos que esta questão continua em aberto nas vidas de todos os Irmãos e que para alguns é já uma ferida, em redor da qual sofrem e fazem sofrer, pareceu-nos oportuno reflectir. Não na tentativa ilusória de escamotear as dificuldades, que até são de todos, mas na ideia de que juntando a nossa reflexão à vossa, alguma luz pudesse penetrar no nosso nevoeiro.

Queira o Mestre esclarecer-nos a todos para, no silêncio da nossa alma, alcançarmos um patamar de onde possamos ver, não apenas as dificuldades, mas também alguma luz.

15 Dezembro 2000
JC

Magia




Viver em magia é viver em harmonia. É ser capaz de traçar o seu destino através do destino de todas as coisas, e é tornar-se numa unidade com todas as outras coisas – pois magia é unidade.

Para chegar a este planalto de onde tudo se descobre uno e múltiplo, é preciso ter esgotado uma certa forma de aparência que as coisas têm ou parecem ter. É preciso ter penetrado no seu âmago e ter visto nelas o nódulo essencial que as alimenta e que lhes confere realidade e vida.

Para isso é preciso sensibilidade. Não a sensibilidade do médium, que é de ordem inconsciente, mas a sensibilidade do mago, que é de ordem consciente. Como o poeta que, controlando-se controla a sua poesia. Ou o músico que, tendo ultrapassado a escala musical, alcançou uma nova escala de dimensão cósmica.

A sensibilidade do mago é coisa rara e única. Tão rara e única que nem se ensina (não há escolas de magos), nem se transmite (pela mesma razão). E quando se ensina, ou aparentemente se ensina, ensina-se apenas àqueles que já nasceram magos. Pois aqui, como na R+C, nasce-se para isto como lá se nasce para servir os outros.

Magia é integralidade – integralidade consciente e vivida. Onde tudo participa do mistério fundamental que é viver cada segundo em consciência acordada e plena. Pelo que cada coisa, ou ser, possui identidade própria e colectiva, de ordem magica e humana, transcendente e imanente – ou não fosse a sua essência múltipla.

Viver magicamente será então um dos degraus que lucidamente sobe aquele que quer alcançar a escala do uno e imutável senhor. Ou o último desses degraus pois que, galgado este, se penetra (assim dizem as crónicas antigas) num plano de realidade distinto deste.

Lisboa, 31 Outubro 1990
JC

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Ocultismo, que futuro?



O ocultismo do século 19 teve um grande defeito: tentou organizar o mundo e esclarecer todas as dúvidas. Para compreender esta necessidade é preciso perceber a mentalidade dessa época: racional, fechada sobre si, convencida de que tinha alcançado o topo do saber.

É famosa a história (verídica) do encerramento do registo de patentes: é que já se tinha inventado tudo. Mais tarde percebeu-se que não e que a maquina a vapor era afinal o começo de um caminho sem retorno. É também conhecida a ideia de que nenhum corpo mais pesado do que o ar poderia voar. Esquecendo-se, quem o disse, de que os pássaros voam. Agora todos voamos e já ninguém pensa nisso.

A uma mentalidade tão fechada tinha de corresponder um grande orgulho e simultaneamente um grande medo. Como consequência do orgulho veio a guerra, como consequência do medo veio a desconfiança dos outros e mais tarde o início dos grandes movimentos de reforma social.

No plano do ocultismo veio a ideia de tapar os buracos deixados pela gnose e pelos fragmentos dispersos do Rosacrucianismo, da Alquimia, do Templarismo, da Maçonaria. A primeira ferramenta de que o ocultismo lançou mão foi a experimentação, nisto se assumindo cientifica. O que deu origem ao fenómeno do Espiritismo e da Parapsicologia.

Com o Espiritismo veio a racionalização dos mundos subtis, das relações entre almas encarnadas e desencarnadas, a teoria da evolução, a classificação dos mundos e dos corpos e por consequência das leis que tudo fazia existir. Foi uma época de certezas e deixou-nos um legado que ainda agora, já não racionais nem mecânicos, continuamos seguindo e mantendo.

Antes do século 19 havia ocultismo mas era diferente: havia alquimia para os práticos da pedra filosofal e teórica para os adeptos da transformação espiritual; havia magia, sobretudo negra ou vermelha; havia cabala e através desta o estudo dos livros bíblicos; havia Rosacrucianismo e através deste uma mistura de tradição cristã com paganismo; havia gnose e por isso o estudo dos clássicos gregos.

Havia tudo mas nada organizado no estilo enciclopédia a que os grupos do século 19 nos habituaram. E sobretudo não havia resposta definitiva para os grandes mistérios, mesmo que cada tradição ou grupo afirmasse a sua parte de verdade e tentasse a seu modo responder.

Depois aconteceu Blavatsky e essa enxurrada de teorias estranhas ao Ocidente. E como consequência de Blavatsky e do Hinduísmo, aconteceu a organização do ocultismo ocidental e uma espécie de guerra de bastidores para manter coeso e inalterável o propósito (ou aquilo que se acreditava ser o propósito) das tradições ditas ocidentais.

Ninguém estava preparado para Blavatsky e a resposta foi confusa e incoerente. O ocultismo ocidental tinha sido druida, grego, romano, cristão também. Mas era feito de fragmentos e não tinha nem a complexidade nem a dimensão nem a resposta que a Teosofia tinha.

De repente acordados, postas em causa certezas profundas, organizaram-se os defensores da tradição do ocidente como se houvesse na verdade algo a defender. Ressurgiu a R+C, a Maçonaria (agora mais especulativa ou filosófica), o Martinismo, alguns tipos de Templarismo, a Alquimia, a Cabala. E autores, sobretudo franceses (Levi, Papus, Guaita, Peladan), mas também ingleses (Yeats, Crowley, Lytton) e alemães (estes mais místicos e nacionalistas).

O esforço resultou, e aquilo que começou de forma incoerente acabou por criar raízes e por assumir contornos de movimento filosófico permanente. Assim desembocou em homens como Heindel, Stainer, Hesse, Lewis. E através destes chegou aos nossos dias.

Agora estamos vivendo um paradoxo e vamos ter de fazer opções: ou esse ocultismo paternalista a que nos habituaram ou o desbravar de outras e diversas dimensões. Apanhados na curva da história, com um pé no desconhecido e outro em aparentes certezas, ainda não sabemos o que fazer. Os melhores de entre nós hesitam: conscientes de que a verdade é, como disse magistralmente Krishnamurti, “um país sem caminhos”, tem dificuldade em hipotecar o futuro aos seus e nossos receios.

Paralelamente proliferam as ideias pessoais e misturam-se as teorias que vão dos ovnis à espiritualidade, da busca do Graal à magia, dos cultos afro-americanos à esperança messiânica num salvador que nos redima. Misturam-se as ideias e assiste-se ao aparecimento de grupos cuja desorientação espelha a da própria época em que vivemos.

Época perigosa pela diversidade da oferta de ideologias, mas sobretudo pela forma simplista com que as queremos viver. E somos tentados, mesmo os melhores de entre nós, a viver à margem da consciência e a adoptar poses que em nada nos ajudam a reencontrar o fio da meada que algures no século 19 se perdeu.

Amarna, Verão de 2003
JC

Os mundos misturam-se



A percepção mais não faz quase sempre do que confundir-nos. E se é verdade que sem ela e os sentidos físicos (e psíquicos) a que se encontra ligada, pouco poderíamos entender do mundo e menos ainda agir sobre ele e sobre a vida, também é verdade que a nossa acção está eivada de distorção e de irrealidade precisamente porque a percepção vem distorcida.

O mundo é diverso na forma e mais ainda nas energias subtis que o configuram. Mas porque nada disto entendemos e, ao contrário, tudo temos feito no sentido de o restringir e limitar a um dado conceito, esta visão rejeitamo-la e em lugar de nos situarmos no ponto de convergência das forças (mas onde o processo sendo uno é caótico), optamos pela periferia e por esses lugares (ou dimensões) onde a energia e o tempo se condensaram produzindo uma matéria quase inerte e um tipo de consciência quase larvar.

Padronizamos a realidade para assim termos forma de a manipular. Esta forma estereotipada de viver e perceber, tem criado milhões de mundos fechados e tem conduzido ao choque permanente de povos, de culturas, e de conceitos. Sendo verdade que apesar de partilharmos o mundo e seus recursos, cada um o vive e faz desses recursos o que a sua escala de valores, toda ela intimista, lhe diz ser a verdade.

A verdade, no entanto, não se deixa capturar. E apesar de cada povo estar convencido da veracidade que lhe assiste, o que legitima a imposição a outros, na realidade ninguém se pode outorgar direitos sobre terceiros, muito menos quando estes se regem por padrões diferentes.

Tudo se passa como se cada povo tivesse adoptado um conjunto de referências (ou quadros mentais) de raiz psicológica profunda, a partir das quais organizasse o seu imaginário, a sua escala de valores, o seu destino.

Hoje, misturadas que estão as formas de ver o mundo (sobretudo a partir da expansão cultural do Ocidente), sobressaem menos as dicotomias e somos até levados à ideia de que as distinções se esbateram ou anularam. No entanto, basta penetrar no íntimo das culturas orientais, para percebermos que a visão superficial de uma aparente unidade não resiste a um estudo mais profundo.

Esta diversidade não se explica apenas pelas condições naturais das regiões em que os diversos povos têm vivido. Mais provável é haver, na origem do fenómeno, uma origem racial ou cultural diferente. Ou seja: ter sido a pátria original de cada povo, provavelmente situada em constelações distintas, a fazer a diferença.

Assume-se desde há muito que o povoamento do planeta (como de todos os outros) se fez por levas sucessivas de emigrantes vindos de diversas partes do cosmos. Esta origem escalonada no tempo explica duas coisas: a origem das raças e a incapacidade de entendimento e miscigenação.

Considerou o ocultismo atribuir a cada raça uma determinada época onde a sua cultura teria prevalecido. Esta afirmação devemo-la ler numa dimensão mais vasta: a sua prevalência deveu-se, não apenas a factores espirituais (únicos que o ocultismo valorizou) mas também e sobretudo ao facto de cada povo, chegado à Terra, deter ainda a sua cultura e estar na posse da sua tecnologia. Esta condição, que outros vindos anteriormente provavelmente já não possuiriam, dava a cada novo grupo o predomínio e a capacidade de se tornar numa espécie de centro cultural e espiritual ordenador da sua época.

Podendo-se desta forma, e conhecendo-se a época em que cada raça prevaleceu, estabelecer com alguma exactidão o momento da sua chegada e a sua localização original sobre o planeta.

Amarna, Verão de 2003
JC

Partilha ou posse



De partilhar muitos tem medo! A ideia é revolucionária e contraria, na aparência, hábitos antigos de uso exclusivo. Educados desde o berço para possuir, entendemos com dificuldade esta ideia de não termos nada para termos tudo. E também ainda não percebemos que, como escreveu Agostinho: “não somos nós que temos as coisas, mas elas que nos tem a nós”. Na verdade basta olhar em volta: é um esforço sem fim para comprar e conservar o que se comprou.

Pensou-se durante muito tempo que a industrialização poderia reduzir o trabalho humano ou até acabar com ele. Poder poderia, mas era preciso que se quisesse. É que não basta por as máquinas a trabalhar para o homem: é preciso não por o homem a trabalhar para outros homens, é preciso cria-lo livre.

Tal como estamos, em pleno consumismo, somos educados para acreditar que é preciso produzir bens e fazê-lo até aos 60 anos, pelo menos. Ou seja, quando vamos para a reforma estamos velhos, doentes, e pouco ou nada interessados no lazer. Isto para os que produzem, autênticos escravos do sistema. Há depois os que não produzem mas vivem do esforço alheio: são poucos mas são eles que mandam, ou nós acreditamos que sim.

Antigamente era o feudalismo. Depois, porque a terra perdeu valor face à cidade e aos confortos que lá havia, criou-se a burguesia e desta chegou-se ao capitalismo. Agora estamos chegando à globalização que será uma forma mais anónima de gerir o poder sem dar a cara – uma espécie de absolutismo autocrático e despótico.

Por esse mundo fora manifestam-se as minorias: contra a guerra, contra a globalização da economia, contra os direitos absurdos de uns sobre os outros. E assiste-se à desumanização progressiva do mundo e à morte de milhões que tiveram o azar de nascer em África ou no Médio Oriente. Sabemos tudo isto, mas porque é de todos os dias, vivemos alheados e já nem pensamos.

Enquanto só lhes tocar a eles, compreendemos tudo. E pensamos, cada um para si próprio, que estas coisas só acontecem em África ou na Ásia, nunca na Europa, nunca aqui. Na verdade acontecem onde tem de acontecer, como na Argentina – e de repente é a bancarrota e o sistema faliu.

Os analistas referem, desde os anos 80, uma grave crise de estruturas a nível mundial. Talvez por isso cada grupo de países, organizados em blocos continentais, se juntou para fazer face à crise económica. É a razão do grupo europeu, ou asiático, ou americano, ou agora, e mais recentemente, africano.

Respostas à crise? Não é bem assim: tentativas de lhe passar ao lado, de a ignorar. Porque no fundo ninguém quer prescindir de coisa alguma, sobretudo quando toca a consumir. Todos querem a mesma solução: consumir o que é dos outros e não lhes dar nada em troca. É por isso que os Americanos agora fazem guerra onde dá jeito, e dá sempre jeito fazê-la onde está o petróleo, o gás natural, as riquezas.

No Fórum Mundial realizado no Brasil, os movimentos ecológicos, os grupos pela paz, e as organizações não governamentais, tem vindo a falar de outro tipo de soluções: falam sobretudo em partilha e em distribuição de riqueza. Mas a voz do Brasil (país onde 10% detém o poder económico e as assimetrias são gigantescas: veja-se o caso dos “sem terra”) ainda não teve eco no mundo. É que tardamos em perceber que a solução Americana, ou Europeia, tem os seus dias contados, e que fazer a guerra aos outros só leva a uma revolta surda que um dia há-de explodir.

Pela nossa parte acreditamos na libertação do homem e na ideia de que estamos vivendo a época em que é possível realizar a passagem entre a sociedade exploradora por troca com aquela que busque e implemente a criatividade e o lazer. E sonhamos que experiências como a das Comunidades alternativas possam vir a ser os balões de ensaio dessa nova sociedade.

Gostaríamos por isso de ver imperar o espírito da partilha em lugar da ideia da renda. É que temos alguma dificuldade em perceber que se possa partilhar a vida e depois não se consiga partilhar aquilo que tem menos valor nessa vida: os bens. Mas compreendemos que as ideias novas levam o seu tempo e que não se mudam mentalidades de repente. Preferimos pensar antes que a partilha da vida nos levará inevitavelmente a confiar uns nos outros, a juntar esforços, a cerrar fileiras, e um dia a partilhar os tais bens que afinal nem sequer são nossos, mas de todos os que vivem neste planeta.

Então poderemos ir pelo mundo e dizer a todos que encontrarmos, que existem lugares onde a vida não passa pela competição nem obriga à escravização. Pelo contrario, onde o que existe é esse sonho tornado verdade de haver comunidades onde a vida é gratuita.

E poderemos ainda falar do reino do quinto império e da idade do Espírito Santo, porque afinal a estamos vivendo. E poderemos convidar outros a partilhar connosco. E isto sim, é ser Irmão da Nova Era e é assumir esse sonho dos Mestres: de Comunidade ser lugar de partilha e de protecção do pobre pelo rico, do fraco pelo forte.

É isto que penso quando penso em Comunidades. Não penso em bens que afinal são a continuação do que temos por esse mundo fora, o tal sistema que faliu. Mas se tivermos de começar pelos bens para um dia chegar à partilha, pois comecemos.

Amarna, Verão de 2003
JC

Discipulado



O primeiro dever do discípulo é estar disponível para o seu Mestre. O segundo, que deriva deste, é estar disponível para a Obra. O terceiro, que será a consequência de ambos, é estar disponível para os seus Irmãos e pressupostamente para a Humanidade.

Alguns discípulos estão disponíveis para o Mestre, mas totalmente indisponíveis para a Obra, muito mais ainda para os Irmãos ou a Humanidade. Este tipo de discipulado baseia-se numa adesão emocional àquilo que idealmente se considera ser a figura do Mestre: paternalista, protector, continuação da figura do “pai” tal qual a sociedade actual nos habituou. Escusado dizer que este tipo de discipulado vale pouco ou nada.

O discipulado é uma forma de aderirmos conscientemente à nossa auto-transformação e de participarmos nela. Podemos dizer que desde que nascemos fazemos auto-transformação: o que é verdade. Mas fazemo-la contra a nossa vontade, fazemo-la porque as leis do destino agem sobre a matéria e criam-lhe condições que esta não pode contornar. Então a única forma de sobreviver e manter a ideia do “eu pessoal” é aderir. Mas esta aderência é feita sem vontade nem disponibilidade. É verdade que mudamos na aparência, mas porque não aderimos à mudança, porque não a desencadeamos nem a desejamos, na verdade tudo fica na mesma.

No discipulado nada pode acontecer “por acaso” tudo tem de acontecer porque o queremos. Esta adesão faz a diferença e determina a transformação final. É por isso absurdo querer aderir a um mestre feito por encomenda para cada sensibilidade ou criado unicamente para suprir as insuficiências de cada um. E mesmo que o discípulo cultive a ideia de satisfação com este tipo de mestre, mais tarde ou mais cedo tudo ruirá porque na verdade o Mestre só pode agir contra as ideias feitas, contra os aprisionamentos, contra as redomas.

Estar disponível para o Mestre não significa estar disponível para a nossa projecção do que ele é, significa antes assumir os deveres espirituais acima daqueles que a sociedade criou e que nós alimentamos.

Há discípulos que tem dificuldade em perceber o que é servir o Mestre: a esses basta-lhes servir os Irmãos, já que servindo aqueles que o Mestre tomou para si estamos servindo o próprio Mestre.

Há outros que não entendem o que é a Obra e por isso fantasiam. A Obra é tudo que conduz do esboço à estátua acabada, do destino pressentido ao destino assumido, do desejo à sua consumação. E é também todo o acto feito em prol da humanidade.
Servir a Obra é servir o projecto divino em qualquer uma das suas vertentes: humanas, sociais, políticas, cientificas, artísticas, místicas. Mas para servir é preciso estar disponível, e para estar disponível é preciso estar livre, e para estar livre é preciso colocar o interesse colectivo acima do interesse pessoal, a vida dos outros acima da própria.

Há discípulos que aparentemente fazem tudo isto e no entanto não estão servindo a Obra: estão-se servindo dela para auto-envaidecimento. A diferença entre o enaltecimento do ego e o seu despojamento, é subtil. Por isso a maioria dos discípulos falha quando tenta servir o Mestre e realizar a Obra: projectando-se no que fazem, colocando os seus ideais acima do bem colectivo, apropriam-se desse colectivo e mascaram-se com ele, perdendo toda a perspectiva.

Realidade e fantasia misturam-se na percepção. É por isso muito difícil perceber o que é projecção pessoal ou interesse colectivo. Virtualmente nenhum discípulo estará isento de responsabilidades nesta matéria e o mais provável é que em toda a acção em prol dos outros exista uma parte egocêntrica.

No entanto, se é verdade que o ego está presente mesmo na maior dadiva, ele tem de ser permanentemente desmascarado por aquele que escolheu servir a Obra. E é aqui que o discipulado, com todas as suas regras e sacrifícios tem razão de ser.

Poucos Irmãos terão o habito de fazer o exercício da retrospecção nocturna: e no entanto ele é fundamental para desmascarar o ego. Sem auto-recordação, sem análise do que fazemos, tudo se transforma numa vertigem e num acto cego. Também poucos Irmãos estarão servindo através da entrega das suas vidas a algo ou alguém que lhes seja indiferente: já que servir aqueles que amamos nada acrescenta ao que já somos.

Servir não é buscar a auto-satisfação: é contrariá-la. Servir aqueles de quem gostamos não implica sacrifício e portanto nada acrescenta ao que já somos. Se só servirmos a família, os amigos, os conhecidos – então falhamos redondamente. Quem serve não escolhe: entrega-se. Escolher a quem servimos é violar o princípio do próprio serviço e é transformá-lo numa coisa egoísta. É por isso que existindo milhões de discípulos só existiram meia dúzia de almas santas.

Na vida do discípulo cada Mestre coloca os tropeços e as dificuldades que mais rapidamente o farão ganhar as asas da consciência e da liberdade. É por isso que todos estamos sofrendo de algum modo. Doença, falta de dinheiro, falta de amor, aprisionamento: não importa – é sempre o mesmo. Prova e auto-libertação. Mas só se aceitarmos e compreendermos.

De muitas maneiras somos testados nas nossas fragilidades e pouco a pouco erguidos até níveis que não supúnhamos possíveis: em tudo isto a Obra cresce. Mas é sempre contra nós que ela cresce. Não é servindo egoísmos, ou posses, ou aprisionamentos: é destruindo-os.

Estamos todos subindo uma montanha muito íngreme. Necessariamente é preciso ir libertando pesos e amarras, ou em lugar de atingir o cume ficaremos pela encosta. Nesta matéria, como em tudo que é importante na vida, é preciso escolher.

Amarna, Verão de 2003
JC

Cidadania planetária



Defendemos o uso colectivo do planeta, seja nas suas infra estruturas seja na utilização dos bens que todos os dias juntamos aos que já existem. E pensamos ainda que é o uso exclusivo e o direito de propriedade individual que estão na origem da maioria dos problemas sociais e humanos que afligem a Humanidade.

Sonhamos, por isso, com uma época em que o homem assuma a liberdade como o maior dos seus bens – assuma-a e partilhe-a.

E visionando o tempo que nos aguarda, vemos que a Terra se transformou num imenso jardim, onde pequenas comunidades se organizaram, não por razões comerciais ou industriais, mas em função das tendências íntimas e da expressão humana que a elas se liga.

A liberdade religiosa é total. Cada ser procura e expressa livremente a sua sensibilidade, seja qual for a forma como entenda e se relacione com o todo universal. Em consequência, os credos religiosos perderam terreno face à relação livremente criada entre cada ser e o cosmos humano e sideral.

Adivinha-se o aparecimento, agora ainda em esboço, de uma forma mística de inter-relação entre o homem e tudo o mais que o rodeia. A acontecer, prevê-se que este passo corresponda a uma mutação de consciência global que antecipe a adesão ao todo universal.

As filosofias esotéricas extinguiram-se enquanto partículas de um saber mais profundo. Este, por sua vez, faz agora parte da busca de todo o ser humano e está disponível em associação com o saber comum. Criou-se, deste modo, a tão esperada síntese entre ciências espirituais e materiais.

As diversas tradições espirituais fundiram-se e fazem agora parte da cultura humana. Em virtude disso, terminaram as lutas fratricidas entre seres humanos e atingiu-se a concepção de uma busca da verdade e não da ideia da sua posse como um bem acabado.

A concepção divina generalizou-se e expandiu-se, formando a base cultural da nova humanidade. O homem entendeu e assumiu realizar-se realizando o outro homem e isto conduziu ao aparecimento de uma consciência unificada. Esta consciência antecipa a possibilidade do aparecimento de uma consciência cósmica.

A indústria existe, mas em bolsas separadas dos aglomerados humanos, e em todo o caso é industria que já não polui. Para a manter apenas uns poucos, e de longe em longe, já que o objectivo da indústria é suprir as necessidades de consumo e não concorrerem umas contra as outras, como hoje é uso.

A humanidade organizada ou, em aglomerados pequenos ou, muitos em peregrinação constante, já que a troca de informação e experiência é a base de toda a evolução humana. Circular entre comunidades, realizar em cada uma delas uma parte do que somos, torna-se assim uma mais valia quer para o viajante quer para aqueles que o acolhem.

Comunicação através dos meios globais que hoje já esboçados estão, sendo o futuro apenas a disponibilização do sistema para todos utilizarem e não como agora, só para os que tem os meios financeiros. E daí um enriquecimento global, já previsível hoje, mas impossível de alcançar pelas restrições orçamentais dos países pobres.

E com a globalização da comunicação entre todos, também a expansão vertiginosa do conhecimento e seu uso. Assim se passando rapidamente da mentalidade fechada e limitada aos usos de cada povo, à ideia, muito mais correcta e verdadeira, dos interesses globais de todos.

Planeamento, na base, das quantidades máximas possíveis de gente que pode habitar, quer o planeta, quer cada região. Já que o excesso de população e sobretudo a sua má distribuição, foi e é uma das causas de guerra, fome, doença e infelicidade.

Saneamento das doenças, quer pela utilização da genética, quer pela educação das populações, já que saúde sem educação não é possível. Também controle alimentar, usando os produtos que a natureza disponibiliza e não aqueles que a industrialização forçada criou. Tudo isso no sentido de inserir o homem no seu meio natural e por consequência fazê-lo participar do conjunto.

Famílias, não forçadas pela necessidade de sobreviver a qualquer custo, ou pela ideia de acumular riquezas e privilégios, mas em virtude do interesse e gosto daqueles que assumem a necessidade de partilhar o que são. E por isso estáveis. Mas também, e simultaneamente, relações esporádicas entre pessoas que, devido à sua natureza e interesses, fazem das viagens um modo de vida.

Crianças são sempre bem vindas, já que com elas se reaprende o sonho e a ideia de melhorar tudo. Mas porque assumidas pelo conjunto e por ele educadas, crescem em liberdade e com o sentido global da vida, e isto torna-as cidadãs do mundo e portanto conscientes e positivas.

Os bens, porque excedentários num mundo que só consome o essencial, estão disponíveis para todos. E tal como hoje as bibliotecas disponibilizam cultura, no futuro os armazéns disponibilizarão objectos, alimentos, medicamentos, e tudo o mais que seja essencial ao homem.

A habitação é um direito de todos e não um uso exclusivo de alguns. Pelo que as habitações existentes no planeta são usadas de acordo com a necessidade e não de acordo com a posse. Assim, mesmo para aqueles que circulam de comunidade em comunidade, existe sempre a possibilidade de pernoitar onde encontrarem casa ou abrigo.

Também nas comunidades o podem fazer, seja nas habitações disponíveis, seja através da construção de outro espaço a eles destinado. Nestas ocasiões junta-se a comunidade inteira para ajudar a construir a nova habitação.

Porque tudo é bem comum, cessou a ideia de lutar pelo uso particular ou de ferir outros para o conservar. Ao contrario, gerou-se a ideia de que não havendo posse alguma há liberdade para viver o momento que passa. E isto traduziu-se em criatividade, em comunicação, em cultura. E em bem estar.

As guerras, geradas para defender territórios exclusivos ou direitos tornados obsoletos, deixaram de existir ou de ser pensadas como solução.

As forças de segurança, criadas para castigar e manter o poder político, extinguiram-se pela ausência de conflitos ou de interesses particulares.

As prisões já não aprisionam, pois que os seres crescem sem dor e portanto sem necessidade de ferir outros ou deles se vingarem.

Tudo que o homem criou para se defender do seu semelhante jaz agora no museu das coisas inúteis. E se alguns ainda estudam essas questões é para poderem ensinar às crianças o horror do homem que não amava o outro homem.

O comércio extinguiu-se, já que a produção chega directamente a quem a usa. E tendo-se extinguido, o custo dos bens, antes exorbitante e inflacionado pela ideia do lucro pessoal, tornou-se acessível para quem os utiliza. Saiu-se assim de uma bancarrota com data fixa e entrou-se definitivamente na ideia de uma sociedade responsável e partilhada.

O poder político extinguiu-se dado não haver necessidade de mandar nos homens nem de os convencer a serem distintos dos outros homens.

A administração existe ainda, mas sem defender ideologias particulares ou interesses exclusivos. Existe de forma ordeira e global. A sua constituição obedece a princípios considerados sagrados: liberdade, fraternidade, igualdade.

Os cargos administrativos são atribuídos rotativamente e todas as comunidades podem estar representadas. Os cidadãos também podem participar se o entenderem. O objectivo é a troca permanente de informação e o gerir das situações de acordo com as necessidades de todos.

JC